sexta-feira, 9 de março de 2007

O 8 de março é dia de luta!

Nancy Cardoso Pereira *

Para Adital(agencia de noticias de Fortaleza)
Dia de luta dos movimentos internacionalistas de mulheres, o 8 de março nunca foi um dia fácil de engolir! Entre o fim de fevereiro e o começo de março as mulheres socialistas dos inícios de 1900 na Rússia, na Europa e nos Estados Unidos celebravam seu dia de luta a partir de acontecimentos importantes: greves, manifestações, enfrentamentos!

Em plena Guerra Mundial, em 1917, na Rússia, as mulheres socialistas realizaram seu Dia da Mulher no dia 23 de fevereiro, pelo calendário russo. No calendário ocidental, a data correspondia ao dia 8 de março. Neste dia, em Petrogrado, um grande número de mulheres operárias, na maioria tecelãs e costureiras, contrariando a posição do Partido, que achava que aquele não era o momento oportuno para qualquer greve, saíram às ruas em manifestação; foi o estopim do começo da primeira fase da Revolução Russa, conhecida depois como a Revolução de Fevereiro.

O que elas queriam? O que nós queremos?

Abolir a propriedade privada? Com certeza!! Abolir a propriedade privada como base da sociedade que estrutura desigualdades, cria hierarquias de poder e mantém uma sistemática guerra contra a natureza e seus seres. O 8 de março é um dia de luta contra a propriedade privada... também no âmbito das relações sociais, do casamento e da sexualidade. Cama, mesa e banho. É isto mesmo... queremos abolir os poderes de latifundiários, empresários, políticos, patrões, maridos e senhores. Horrorizai-vos! O 8 de março é um dia anti-burguês, contra as ridículas homenagens burguesas que tentam continuar emburrecendo as mulheres com tradição, família & propriedade ou flores, bombons & um laço de fita, ou mitos do amor romântico, da beleza e da maternidade. Horrorizai-vos! é contra tudo isso que lutamos, articulando classe-gênero e etnia na construção de um eco-socialismo feminista.

E a burguesia grita!! "Vocês mulheres, feministas, comunistas querem introduzir a comunidade das mulheres!!" É verdade! Já vivemos assim! Já somos comunidade e construímos na luta nossa unidade entre mulheres do campo e da cidade! Não aceitamos ser reduzidas a instrumento de produção e reprodução do capital, da família e do poder masculino. Nós arrancamos nós mesmas das formas violentas e históricas que querem nos manter subordinadas, minorizadas e desiguais.

Neste exato momento centenas de mulheres camponesas do Rio Grande do Sul estão debaixo da lona preta, debaixo do eucaliptal, num dos 200 mil hectares das multi-imperialistas do agronegócio florestal - Aracruz, Votorantin, Stora Enso, Boise... - denunciando que o deserto verde está impedindo a reforma agrária e inviabilizando a agricultura camponesa.

Neste exato momento as mulheres da Via Campesina e suas crianças morrem de pena das árvores enfileiradinhas, da terra ocupada com nada, do alimento que não brota do chão, da água que não tem mais tempo de molhar. Observadas pela Brigada Militar - seus cavalos e cachorros - as mulheres abençoam o mundo e dormem entre o medo e a solidariedade. Toda a campina se ilumina perdoando as árvores de mentira em sua feiúra. E no escuro, elas se fazem Via... láctea, campesina, revolucionária e planejam hortas, pomares e cozinhas de um plano camponês para o Brasil.

Neste exato momento mulheres fortes, atentas e decididas fazem a segurança do acampamento nas terras da Boise. Quem quiser doçura, carinho, afeto e graciosidade... melhor que escreva sobre confeitarias ou almofadas. O grande amor da vida delas vai misturado com a capacidade de saber endurecer... perdendo a paciência quando precisar.

Ela perdoam as mulheres burguesas e suas mentirinhas, as feministas interrompidas e suas teologias, mas não toleram mais discursos gerais sobre mulheres inexistentes, nem elogios da diferença que não fazem diferença alguma. É por dentro da luta de classes que a luta das mulheres trabalhadoras acontece. É por dentro das mulheres que a luta de classes avança.

Horrorizai-vos! Senhores teólogos. O 8 de março chegou anunciando também- contra toda a esperança! - que os dias do deus-pai estão contados e que há de chegar o dia - e já veio - em que se fará teologia com o coração ardente, contra toda violência e propriedade.

* Pastora metodista. Coordenação nacional da Comissao pastoral da terra-CPT

quinta-feira, 8 de março de 2007

A PIOR CIDADE DE TODOS OS TEMPOS

David Coimbra, (Zero hora de 14/02/2007)

Isso tudo tem me irritado. Para começar, esse troço degestão. Todo mundo fala em gestão. Gestão, gestão.Sabe o que é gestão? Economia. Corte de gastos.Isso é gestão, para esses caras. Um secretário dafazenda, um prefeito, um ministro, um governador deEstado, todos eles, quando assumem seus cargos, falamem gestão. Muito moderno, muito revolucionário, elesaprenderam novas estratégias em cursos nos EstadosUnidos ou na Espanha. Ém-bi-êi, é como chamam essescursos. O sujeito vai lá, faz ém-bi-êi e sai dizendoque está pronto para aplicar novos métodos de gestão.Aí funda uma empresa que presta assessoria ou vaitrabalhar para o Estado. E arrosta:
- Temos que cortar as despesas.
Mas, Cristo!, a minha vó, Dona Maria Bernardina, jácortava as despesas em 1940! Então, esses são os novosmétodos de gestão? Os da Dona Dina??? Por favor! Tãonovos quanto os furúnculos que atormentavam Marxenquanto ele desvendava a mais-valia entre as chaminésde Manchester.Mas eles vêm com essa conversinha, os discípulos doém-bi-êi. Economia, economia. Meu avô, seu Walter,quando a Dona Dina queria economizar demais, já dizia:
- Economia é a base da porcaria.
E é!
Mas também não vá entender mal, não sou a favor dodesperdício. Estou falando do gênero de economia que,por exemplo, pode ter sido feita pelo metrô de SãoPaulo. Há suspeita de que as empresas que realizavam aobra eram estimuladas a economizar no materialempregado. Será que o tamanho do corte de gastos teverelação com o tamanho do buraco no qual sete pessoasperderam a vida? Se teve, talvez essa economia nãotenha valido a pena, não é mesmo?
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Vou dar um exemplo futebolístico, já que estamosdentro de fronteiras esportivas. Grêmio e Interpassaram por choques de gestão, tempos atrás. O Grêmiofoi para a segunda divisão e o Inter gramou dois anossem disputar uma única final, perdendo todos osGre-Nais e terminando o ano sem time. FernandoCarvalho e Paulo Odone não aplicaram choque algum nosseus clubes. Também não foram perdulários, verdade.Mas investiram. O Inter, até há pouco, tinha 65jogadores. O Grêmio contratou um time inteiro. Osresultados estão aí.Um clube de futebol tem de investir no futebol.O poder público tem de investir nas pessoas.
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A propósito: dias atrás, li que a prefeitura de PortoAlegre está se jactando de fazer uma gestão muitoenxuta, muito econômica. A prefeitura de Porto Alegreestá satisfeita com sua atuação, ao que parece. Poisvou dizer: nunca, desde que os casais açorianoschegaram ao canal onde os escravos ergueriam a Pontede Pedra, em 1845, nunca, desde então, Porto Alegreesteve pior. Nunca houve tanta gente abandonada nestacidade, nunca se viu tantos mendigos esmolando pelasesquinas, tantos sem-teto dormindo debaixo dasmarquises, famílias morando dentro de canos, gente aosmolambos emergindo dos esgotos feito ratazanassubnutridas, e pior, muito, muitíssimo pior: nuncahouve tantos meninos e meninas vagando sozinhos pelasruas, de pés descalços, imundos, ranhentos, tratadoscomo cachorros nas sinaleiras.Essa é a gestão da prefeitura de Porto Alegre.
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E é pensando nisso, nesses meninos, nessa genteabandonada, que me irrito. Por causa do debate que seinstaurou no Brasil, desde a morte brutal daquelemenino no Rio, semana passada. Pois há dias só se falaem construção de presídios, em aumento do rigor daspunições, em mudança do código penal. Tudo isso podeser importante. Assim como é importante a economia deágua que vem sendo feita pelo governo do Estado. Mas é secundário.Chocado com o assassinato bárbaro do menino, o Brasilpassou a discutir as conseqüências, e esqueceu-se dascausas. A idéia é punir quem faz, não evitar que sefaça.É possível evitar que se faça. Basta tirar essesmeninos das ruas. Basta que a gestão seja voltada paraas pessoas, não para o balanço contábil. O Brasil clama por rigor contra o crime? Sou a favor.Sejamos rigorosos contra o crime ANTES que o crimeseja cometido. Em vez de confinar menores nospresídios, vamos OBRIGÁ-LOS a ir para a escola. Em vezde lutar para que a legislação permita a detenção demeninos de 16 anos, vamos lutar para que a legislaçãotorne OBRIGATÓRIA a internação de TODAS as crianças naescola, o dia inteiro. Inclusive o filho do rico.Inclusive o seu filho, minha senhora. Não há dinheiro para tanta escola? Não há dinheiropara pagar tantos professores? Há, sim.Existe disposição na comunidade para um projeto desalvação nacional. Existe solidariedade de sobra noBrasil. Os jogadores de futebol são exemplos notórios,tantos deles que montam instituições de caridade, quequerem, mas não sabem como ajudar. Se o Estado não temrecursos, o Estado tem liderança para orientar aspessoas com essa vontade, para mobilizar a comunidade,os empresários, os trabalhadores, nós todos.Eu acredito que seja possível. Desde que se queira.

Inicial

Esta postagem é a primeira de uma série de textos que pretendo colocar neste blog, por isso cabem alguns esclarecimentos.1- Este blog não tem como finalidade expôr e debater meus problemas íntimos e pessoais, portanto, não esperem um "diário" contando toda a minha vida aqui, este blog conterá textos e matérias diversas, algumas escritas por mim, outras não, as quais eu julgue serem pertinentes à nossa sociedade;2- Este blog conterá diversos textos emitidos por outros canais de comunicação, sempre emitindo a fonte da qual foi retirado;3- Este blog tem uma orientação política claramente de esquerda, portanto, não venham me cobrar neutralidade;4- Este blog tem como objetivo propagar e divulgar textos que sejam críticos ao sistema capitalista, ao neo-liberalismo, e ao status quó;5- Este blog também servirá como uma ferramenta de manifestação das idéias dos movimentos sociais e setores oprimidos na nossa sociedade;Por hora era isso,Rodrigo Schley