quinta-feira, 18 de outubro de 2007

REUNI na UFRGS?

Antes de aderir a um coro, saiba bem o que está acontecendo

Em abril deste ano, o Governo Federal lançou, através de um decreto, o programa REUNI (decreto n° 6.096), cujo objetivo é ''criar condições para a ampliação do acesso e permanência na educação superior, no nível de graduação, pelo melhor aproveitamento da estrutura física e de recursos humanos existentes nas universidades federais''. Desde então, a UFRGS iniciou a elaboração de um projeto propositivo de adesão ao programa. As propostas sistematizadas pela UFRGS (encontradas em http://movimentoufrgs.blogspot.com), feitas nas unidades de cada curso, foram apreciadas no Conselho Universitário (CONSUN) da última quinta-feira, dia 11, e serão votadas no dia 29/10.

E o debate, como está sendo feito?

Primeiramente, nós, do Movimento Democracia e Luta, acreditamos que uma política séria e realmente comprometida com as pautas históricas dos movimentos que lutam por uma educação democrática e popular deve ser elaborada sob um amplo debate com a sociedade e com os movimentos que lutam pela educação. A construção do REUNI deixa muito a desejar neste sentido, pois só dialogou com a ANDIFES (Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior), deixando de lado importantes entidades como a UNE e a FASUBRA (servidores).

Precisa ser criticada, também, a postura da Reitoria e das Unidades de cada curso, que não criaram espaços de debate para a comunidade acadêmica, não relevando, assim, a posição dos estudantes sobre a adesão ao projeto e as alterações de currículos, criação de novos cursos.

Nosso Movimento esteve presente no III Congresso de Estudantes da UFRGS, defendendo a necessidade de um maior debate sobre o projeto do REUNI antes de tomar qualquer decisão prematura, sem ampliar a discussão para além daqueles que o DCE tem conseguido atrair com seu discurso estreito. Infelizmente, o Congresso fora composto por uma maioria que, além de posicionar-se, sem diálogo com os estudantes, contra o REUNI, tirou como resolução que ''o Movimento Estudantil da UFRGS é oposição de esquerda ao Governo Lula". Mas será que esta postura representa a opinião do conjunto dos estudantes da UFRGS? Será que esta postura representa ao menos todos aqueles que defendem uma Universidade Pública Gratuita e de Qualidade? A resposta para estas duas perguntas é não. Parece que o DCE não tem interesse de ampliar qualquer debate para além daqueles que pensam igual a eles.

E sobre a proposta elaborada pela UFRGS?

A partir das diretrizes do REUNI, cada universidade deve elaborar seu próprio projeto de reestruturação e ampliação, nesse sentido, a UFRGS propõe: contratação de professores (cerca de 20%) e de servidores (cerca de 16%); proposta de diploma de Bacharelado Interdisciplinar, empregada em cursos novos, de perfil tecnológico; ampliação, até 2012, de 34% nas vagas estudantis, totalizando cerca de 1446, destas, 845 com a criação de cursos noturnos, 350, nos cursos tecnológicos e o restante na ampliação de vagas em cursos já existentes; além disso, está previsto o fortalecimento das políticas de assistência estudantil e a criação de auxílio transporte para os carentes.

Não obstante a maioria das propostas representarem um avanço, acreditamos ser necessário e urgente a ampliação do debate das propostas para o conjunto da Universidade antes de sua votação no CONSUN dia 29. Neste mesmo sentido, acreditamos que é necessário haver uma maior discussão nas unidades a respeito dos novos cursos a serem criados, das novas modalidades de formação (cursos tecnológicos, ciclos e Bacharelados Interdisciplinares), e das demandas que ainda possam ser incluídas no projeto da UFRGS.

O REUNI abre a possibilidade de expandir o ensino público, mas não é suficiente para tirar as Universidades Públicas da grave situação de defasagem que vivem desde a época do FHC. Além disso, a forma que o REUNI tomará em cada universidade depende do que for proposto por cada Universidade, cabendo aos estudantes na Universidade desde a sua unidade, disputar que expansão é esta que se dará nas Instituições Federais de Ensino Superior.

O que fazer, então?

Conforme foi apontado, o REUNI traz uma pauta que interessa ao Movimento Estudantil, o debate sobre a expansão do ensino superior público e a alteração nas estruturas da universidade (que são uma herança da ditadura militar). Por isso devemos disputar este projeto, aproveitando esta oportunidade para fazer um amplo debate sobre a Universidade que queremos.

Devemos garantir primeiramente mecanismos de debate da proposta, a fim de incorporar a opinião dos estudantes. Devemos nos mobilizar para aprovar os pontos positivos e, se não for possível modificar, barrar os pontos da proposta que são prejudiciais ao modelo de Universidade Democrática e Popular, em especial no que diz respeito a qualidade dos novos cursos que serão criados.

Para nós do Movimento Democracia e Luta, assim como para a maioria dos movimentos sociais, o momento é de construir a unidade em torno de uma agenda autônoma e propositiva capaz de exigir do governo e das Reitorias das Universidades as transformações mais urgentes de que nosso sistema de ensino superior precisa, sem cair no falso debate de ser contra ou a favor do governo, como insiste em fazer o DCE.

O que defendemos como pauta unificada e democrática?

- 200 milhões para assistência estudantil;
- paridade (1/3 para cada categoria) nos Conselhos e nas eleições para Reitor/Diretor/Chefes de Departamento;
- destinação de 7% do PIB para educação (derrubada do veto de FHC ao PNE);
- contratação de professores e de servidores via concurso público;
- ampliação do número e aumento do valor de bolsas de pesquisa e extensão;
- cursos noturnos;
- um Plano Nacional de Educação amplamente debatido com os Movimentos Sociais.

Programa REUNI (Posição da UNE)

Uma das principais resoluções aprovadas pela diretoria plena da UNE, que se reuniu no último fim de semana em São Paulo, diz respeito ao Programa de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni).

A direção enxerga avanços no programa quando ele condiciona o processo de expansão de vagas à melhoria da infra-estrutura da instituição, com acréscimo de até 20% nas verbas de custeio. Por outro lado, afirma que o projeto foi construído sem diálogo com o conjunto da comunidade acadêmica e critica os prazos impostos para que as IFES apresentem os seus planos de adesão.

A UNE exige ainda que o programa seja colocado na pauta de discussão como uma política de Estado e não um projeto de governo. Para ampliar o debate e estender o prazo a entidade convocou um ato em Brasília no dia 29 de outubro, quando os estudantes farão uma blitz no Ministério da Educação.

Os pontos de reivindicação do movimento estudantil também incluem a derrubada dos vetos ao Plano Nacional de Educação, garantindo 7% do PIB para a área e o fim da Desvinculação das Receitas da União (DRU).

Resolução da reunião de diretoria da UNE sobre o REUNI

Em abril de 2007, o Ministério da Educação anunciou o decreto do REUNI, que consiste num Plano de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais. Esse debate vem tomando conta de todo o movimento educacional brasileiro e a União Nacional dos Estudantes precisa interferir nos seus rumos.

Após vivermos anos de ataques sistemáticos às universidades publicas pelo governo neoliberal de FHC, o REUNI representa um importante avanço no compromisso do Estado com a universidade pública ao condicionar o processo de expansão de vagas à melhoria da infra-estrutura da IFES,com acréscimo de até 20% de verbas de custeio.

Porém, afirmamos que sem ampliação massiva e permanente de investimentos públicos na educação, o que o REUNI não garante, esse plano não será nada mais que um projeto de governo, que se esgotará ao fim deste mandato. Queremos mais do que isso! Queremos políticas de Estado, que hoje passam pelo fim dos vetos ao Plano Nacional de Educação, garantindo 7% PIB na educação e o fim da DRU (Desvinculação das Receitas da União) – que retém grande quantidade de verbas para pagamento de dívidas– ampliando os recursos para a educação.

Apesar de trazer avanços que o movimento estudantil historicamente sempre defendeu, o REUNI foi construído sem diálogo com o conjunto da comunidade acadêmica. Além disso, os prazos impostos para que as IFES apresentem seus planos de adesão limitam o debate e impedem um maior amadurecimento do tema entre os estudantes. Por isso exigimos a prorrogação dos prazos para a apresentação dos planos de adesão. A UNE ao longo de sua história acumulou grandes formulações acerca de qual Universidade precisamos para construção de um Brasil mais soberano, desenvolvido e com melhor distribuição de renda. O movimento estudantil tem muito a contribuir neste debate sobre a reestruturação e a expansão das universidades federais e por isso queremos mais tempo para construir um projeto que contemple as nossas reivindicações.

A União Nacional dos Estudantes sempre debateu seu projeto de universidade, galgada na qualidade do ensino a partir do tripé indissociável de ensino-pesquisa– extensão. Achamos que a Universidade Brasileira precisa superar a atual crise financeira, de paradigma e de legitimidade ao qual está submergida. Nesse sentido, as metas globais apresentadas pelo REUNI de taxa de conclusão média de 90% e proporção de 18 alunos por professor, não podem ser contraditórias com a principal missão da Universidade. A opção pela contratação de professores equivalentes com carga horária reduzida não pode comprometer a produção cientifica. Lutaremos sempre para impedir a precarização da qualidade do ensino e das condições de trabalho nas IFES.

Os projetos do REUNI serão elaborados por cada Universidade. Por isso é tarefa de cada CA, DCE, dirigente estudantil intervir junto aos Conselhos Universitários para garantirmos as seguintes conquistas:

Inclusão da grande parcela da população, hoje excluída das universidades por conta do vestibular, através da aprovação imediata da reserva de vagas para estudantes de escolas públicas por curso e por turno. A longo prazo, porém, precisamos rediscutir as formas de acesso à Universidade buscando alternativas ao vestibular.

Aprovação dos planos máximos de assistência estudantil para combater a evasão.

A expansão das Universidades não pode ser dissociada de grandes investimentos na permanência dos estudantes através da construção de bandejões, moradias estudantis,creches universitárias e mais bolsas.

Melhoria da infra-estrutura da universidade, principalmente das bibliotecas e renovação dos seus acervos.

Reestruturação curricular para romper com a atual estrutura departamental em que se organizam os cursos e consequentemente romper com a fragmentação do conhecimentoa que somos submetidos. As mudanças curriculares devem levar em consideração a necessidade de formação ampla e critica do cidadão, não só voltada à especialização. Por isso, defendemos a implementação dos ciclos básicos por áreas do conhecimento, para impulsionar mudanças mais profundas e estruturais nas universidades.

Garantia de mobilidade acadêmica através da constituição de um sistema no ensino federal, que garanta uma unidade mínima nos currículos. permitindo maior mobilidade dos estudantes entre as instituições, dando oportunidade para agregarem novos valores à sua formação.

Incorporação de mais horas ligadas à extensão, sendo este, um mecanismo fundamental de colocar o conhecimento produzido nas universidades a serviço do desenvolvimento regional.

Impedir a aprovação de medidas que flexibilizem os currículos no termos da "diversificação das modalidades de graduação" que permitam a diplomação intermediária.

O movimento estudantil tem grandes contribuições ao debate educacional brasileiro. Queremos intervir nos rumo da expansão e reestruturação das Universidades Federais. Para isso é fundamental a realização da I Conferencia Nacional de Ensino Superior, que garanta um maior dialogo com a sociedade sobre os rumos da educação superior no Brasil.

Para conquistar a extensão dos prazos de debate e o movimento estudantil ser protagonista da construção de projetos avançados para as Universidades, convocamos todos os estudantes brasileiros a levantarem nossas bandeiras históricas no dia 29/10 e fazer ecoar aos quatro cantos deste país nossas idéias.
CHOQUE DE GESTÃO
Policiais dizem que segurança pública está à beira do colapso no RS
Manifestação em defesa de melhores condições de trabalho e melhores salários reuniu mais de mil policiais militares, nesta quarta-feira, em frente ao Palácio Piratini. Segundo eles, governo Yeda Crusius (PSDB) está levando segurança à beira do colapso.
Marco Aurélio Weissheimer - Carta Maior

PORTO ALEGRE - Mais de mil policiais militares saíram às ruas da capital gaúcha, nesta quarta-feira, em defesa de melhores condições de trabalho e melhores salários. A manifestação reuniu profissionais das mais variadas patentes da Brigada Militar (a PM gaúcha) em uma grande manifestação contra o governo Yeda Crusius (PSDB) que, segundo os brigadianos, está levando a segurança pública a beira do colapso no Rio Grande do Sul.

A manifestação iniciou no quartel general da Brigada Militar, no centro da capital, e terminou com um ato público em frente ao Palácio Piratini. Segundo o vice-presidente da Associação dos Oficiais da Brigada Militar, tenente coronel Jorge Antônio Penna Rey o ato teve como objetivo principal “sensibilizar o Governo do Estado para questões ligadas à categoria, e também reafirmar para a governadora Yeda, que não aceitaremos nenhum projeto que altere os Direitos atuais dos Militares Estaduais, como por exemplo o aumento do tempo de serviço, a mudança do plano de carreira e a diminuição de vagas”. “Isto não vamos nem discutir”, garantiu Penna Rey.

A manifestação foi convocada pela Associação dos Oficiais da Brigada Militar (AsofBM), pela Associação de Cabos e Soldados da Brigada Militar (ABAMF) e pela Associação dos Sargentos, Subtenentes e Tenentes da Brigada Militar (ASSTBM).

Os brigadianos distribuíram um panfleto à população explicando as razões de sua manifestação. O documento afirma:

"A Segurança está em crise e vai entrar em colapso. A culpa não é nossa... mas sim da governadora Yeda e do secretário Mallmann. Gaúchos e gaúchas saibam por quê:- salários mais baixos do Brasil- sucateamento da frota de viaturas policiais- falta de coletes à prova de bala para enfrentar a bandidagem- apagão no sistema de rádio- ameaças aos direitos dos militares estaduais- atraso de salários- ameaça de não pagamento do 13º salário- tratamento desrespeitoso e arbitrário para com os brigadianos- falta de efetivo- não-chamamento dos concursados aprovados para a BM- excesso de carga horária- não-pagamento de horas-extras- não-pagamento de direitos constitucionais (dedicação exclusiva e adicional noturno)- não-cumprimento da lei da matriz salarial- falta de fardamento- não-convocação dos reservistas da BMPor fim, os PMs pedem o apoio da sociedade: “Povo gaúcho, não deixe desmontar nossa Brigada Militar e sua segurança”.

Os protestos dos servidores públicos gaúchos contra o choque de gestão implementado pela governadora Yeda Crusius (PSDB) seguem crescendo no Estado. Na semana passada, mais de duzentos professores se acorrentaram aos portões de entrada do Palácio Piratini denunciando o desmonte da educação pública no Estado. Diversas categorias de servidores vêm se reunindo semanalmente para discutir a situação dos serviços públicos. Eles começam a preparar uma greve geral de funcionários públicos ainda este ano.

quinta-feira, 30 de agosto de 2007

O 3º Congresso e a ação dos governos petistas

Ary Vanazzi
O 3º Congresso Nacional do PT, que se realizará neste final de semana, é o momento ideal para o partido refletir sobre a ação dos governos petistas e qual papel que a participação da institucionalidade tem ocupado na estratégia geral do PT ao longo desses anos.
O PT tem vastas e diferentes experiências de governo acumuladas ao longo de sua história. Desde as vitórias de importantes prefeituras no final dos anos 80 até a conquista do Governo Federal em 2002.
A estratégia que orientou a atuação do partido na primeira década de sua existência foi sistematizado pelo 5º e 6º encontros nacionais, respectivamente, 1987 e 1989; ou seja, afirmavam que nosso objetivo estratégico é o socialismo.
A luta pelo socialismo exigia, dizíamos então, construir e conquistar o poder político; construir o poder exige acumular forças, através do Partido, dos movimentos sociais, de espaços institucionais, de alianças e através da formação de uma cultura socialista de massas.
Logo, essa estratégia de construção do socialismo afirmava que as disputas eleitorais e o exercício de governos constituíam parte da política de acúmulo de forças, portanto integrariam o processo de construção do poder.
Dessa forma, a participação em governos – na institucionalidade – deveria contribuir para acumular forças em direção ao socialismo e para isso necessitava ser caracterizada por profundas mudanças, as quais foram sistematizadas por um livro elaborado pela Secretaria Nacional de Assuntos Institucionais do PT no início dos anos 90, chamado “O modo petista de governar”.
Este livro, “O modo petista de governar” condensava as principais políticas públicas desenvolvidas pelos nossos governos, orientadas pelas idéias de inversão de prioridades, transparência, vigorosas políticas sociais e a participação popular.
Esse “programa” para a ação dos governos petistas permitia politizar a luta de classes e conquistar uma forte base de massas aos nossos governos.
Contudo, a partir da metade da década de 90 o PT passou a sofrer uma profunda reorientação estratégica – de centro-esquerda – o que permitiu que o chamado “modo petista de governar” fosse sendo banalizado e, aos poucos, perdendo o sentido inicial de acúmulo de forças, cedendo espaço ao programa “melhorista”, de convivência com o capitalismo sem acumular forças.
Entretanto, o fato de existir no PT diversas experiências em governos, sejam elas, municipais, estaduais e federal, o impõem a necessidade de um profundo balanço.
É preciso reabrir o debate sobre, por exemplo, como fazer governos sob o capitalismo uma alavanca de luta pelo socialismo? Ou seja, qual será o papel que as administrações petistas ocuparão na estratégia de construção do socialismo, o qual foi pautado por todas as teses apresentadas ao 3º Congresso do PT.
Um dos eixos gerais que devem orientar esse debate é a necessidade de nossas administrações contribuírem para reduzir o poder das classes dominantes e ampliar o poder dos trabalhadores.
Para isso, é urgente que o PT resgate algumas de suas iniciativas, como por exemplo, a participação popular através do Orçamento Participativo (OP), reforma urbana, agrária, a mudança na concepção educacional, a atenção à juventude que não seja a tutela pelo Estado, à cultura popular, entre outras.
O OP, apesar de não ser “o caminho” para, ou um “embrião” de socialismo, é um instrumento democrático que permite a apropriação de um saber dito “técnico”, que anteriormente ficava restrito aos governantes, aos técnicos e àqueles setores da sociedade que têm influência econômica e política nos governos tradicionais. Através do OP, a população pode saber de onde vem e para onde vai o dinheiro público. Em resumo, pode constituir-se, portanto, num instrumento de democratização das relações sociais e de controle do Estado pela sociedade.
Em São Leopoldo, na Administração Popular, a política de inclusão social é uma marca muito forte. Esta, consolida-se a partir da implementação de uma forte política social que é articulada com a participação protagonista da população, permitindo que seja um determinante na valorização das pessoas para a construção da cidadania, transformando-as em agentes do processo de transformação.
Um exemplo, que estamos colocando em prática em São Leopoldo, é a política de segurança que tanto preocupa o conjunto de nosso país. Aqui, estamos construindo um processo coletivo de construção da política de segurança pública. Cada bairro da cidade está se reunindo para construir o Plano Regional de Segurança Pública e, através deste, propondo ações locais que dialoguem com esta demanda. Esse projeto é uma parceria da prefeitura com as organizações sociais da cidade.
Por incrível que possa parecer, as ações propostas não é o simples incremento do aparato policial, ou então, a construção de mais cadeia na cidade. Bem pelo contrário, a visão do povo é que para ter mais segurança é necessário mais praças, mais campos de futebol, áreas para jogos, pistas de Skate, acesso à cultura através do projeto de descentralização da cultura que está levando oficinas de teatro, festivais musicais dos talentos locais, entre outras atividades; além de espaços para diversão e convívio coletivo.
Políticas públicas que possuem como fundamento a participação da sociedade para sua efetivação, negam o assistencialismo e possibilitam aumentar o nível de consciência das classes trabalhadoras e setores médios. É para isso que as administrações petistas devem estar atentas. De nada adianta estar em um governo sem ajudar a alterar a correlação de forças na sociedade e para isso é preciso mudar a vida da maioria da população.
Portanto, o 3º Congresso do PT tem o dever de iniciar uma avaliação autocrítica sistemática e profunda de suas experiências em governos. Debater o programa democrático e popular para que seja capaz de criar processos que possam alterar a correlação de forças na sociedade e construir a hegemonia dos trabalhadores e pequenos proprietários. Dessa forma será possível fortalecer o PT frente às lutas sociais e prepará-lo para que a disputa eleitoral de 2008 e 2010 seja vitoriosa, tendo como vistas a construção do socialismo.
Ary Vanazzi é prefeito do PT em São Leopoldo (RS)

quarta-feira, 4 de abril de 2007

João e Maria (Sivuca/ Chico Buarque)

Agora eu era o herói
E o meu cavalo só falava inglês
A noiva do cowboy
Era você
Além das outras três
Eu enfrentava os batalhões
Os alemães e seus canhõe
sGuardava o meu bodoque
E ensaiava um rock
Para as matinês

Agora eu era o rei
Era o bedel e era também juiz
E pela minha lei
A gente era obrigada a ser feliz
E você era a princesa
Que eu fiz coroar
E era tão linda de se admirar
Que andava nua pelo meu país

Não, não fuja não
Finja que agora eu era o seu brinquedo
Eu era o seu pião
O seu bicho preferido
Sim, me dê a mão
A gente agora já não tinha medo
No tempo da maldade
Acho que a gente nem tinha nascido

Agora era fatal
Que o faz-de-conta terminasse assim
Pra lá deste quintal
Era uma noite que não tem mais fim
Pois você sumiu no mundo
Sem me avisar
E agora eu era um louco a perguntar
O que é que a vida vai fazer de mim

sexta-feira, 9 de março de 2007

O 8 de março é dia de luta!

Nancy Cardoso Pereira *

Para Adital(agencia de noticias de Fortaleza)
Dia de luta dos movimentos internacionalistas de mulheres, o 8 de março nunca foi um dia fácil de engolir! Entre o fim de fevereiro e o começo de março as mulheres socialistas dos inícios de 1900 na Rússia, na Europa e nos Estados Unidos celebravam seu dia de luta a partir de acontecimentos importantes: greves, manifestações, enfrentamentos!

Em plena Guerra Mundial, em 1917, na Rússia, as mulheres socialistas realizaram seu Dia da Mulher no dia 23 de fevereiro, pelo calendário russo. No calendário ocidental, a data correspondia ao dia 8 de março. Neste dia, em Petrogrado, um grande número de mulheres operárias, na maioria tecelãs e costureiras, contrariando a posição do Partido, que achava que aquele não era o momento oportuno para qualquer greve, saíram às ruas em manifestação; foi o estopim do começo da primeira fase da Revolução Russa, conhecida depois como a Revolução de Fevereiro.

O que elas queriam? O que nós queremos?

Abolir a propriedade privada? Com certeza!! Abolir a propriedade privada como base da sociedade que estrutura desigualdades, cria hierarquias de poder e mantém uma sistemática guerra contra a natureza e seus seres. O 8 de março é um dia de luta contra a propriedade privada... também no âmbito das relações sociais, do casamento e da sexualidade. Cama, mesa e banho. É isto mesmo... queremos abolir os poderes de latifundiários, empresários, políticos, patrões, maridos e senhores. Horrorizai-vos! O 8 de março é um dia anti-burguês, contra as ridículas homenagens burguesas que tentam continuar emburrecendo as mulheres com tradição, família & propriedade ou flores, bombons & um laço de fita, ou mitos do amor romântico, da beleza e da maternidade. Horrorizai-vos! é contra tudo isso que lutamos, articulando classe-gênero e etnia na construção de um eco-socialismo feminista.

E a burguesia grita!! "Vocês mulheres, feministas, comunistas querem introduzir a comunidade das mulheres!!" É verdade! Já vivemos assim! Já somos comunidade e construímos na luta nossa unidade entre mulheres do campo e da cidade! Não aceitamos ser reduzidas a instrumento de produção e reprodução do capital, da família e do poder masculino. Nós arrancamos nós mesmas das formas violentas e históricas que querem nos manter subordinadas, minorizadas e desiguais.

Neste exato momento centenas de mulheres camponesas do Rio Grande do Sul estão debaixo da lona preta, debaixo do eucaliptal, num dos 200 mil hectares das multi-imperialistas do agronegócio florestal - Aracruz, Votorantin, Stora Enso, Boise... - denunciando que o deserto verde está impedindo a reforma agrária e inviabilizando a agricultura camponesa.

Neste exato momento as mulheres da Via Campesina e suas crianças morrem de pena das árvores enfileiradinhas, da terra ocupada com nada, do alimento que não brota do chão, da água que não tem mais tempo de molhar. Observadas pela Brigada Militar - seus cavalos e cachorros - as mulheres abençoam o mundo e dormem entre o medo e a solidariedade. Toda a campina se ilumina perdoando as árvores de mentira em sua feiúra. E no escuro, elas se fazem Via... láctea, campesina, revolucionária e planejam hortas, pomares e cozinhas de um plano camponês para o Brasil.

Neste exato momento mulheres fortes, atentas e decididas fazem a segurança do acampamento nas terras da Boise. Quem quiser doçura, carinho, afeto e graciosidade... melhor que escreva sobre confeitarias ou almofadas. O grande amor da vida delas vai misturado com a capacidade de saber endurecer... perdendo a paciência quando precisar.

Ela perdoam as mulheres burguesas e suas mentirinhas, as feministas interrompidas e suas teologias, mas não toleram mais discursos gerais sobre mulheres inexistentes, nem elogios da diferença que não fazem diferença alguma. É por dentro da luta de classes que a luta das mulheres trabalhadoras acontece. É por dentro das mulheres que a luta de classes avança.

Horrorizai-vos! Senhores teólogos. O 8 de março chegou anunciando também- contra toda a esperança! - que os dias do deus-pai estão contados e que há de chegar o dia - e já veio - em que se fará teologia com o coração ardente, contra toda violência e propriedade.

* Pastora metodista. Coordenação nacional da Comissao pastoral da terra-CPT

quinta-feira, 8 de março de 2007

A PIOR CIDADE DE TODOS OS TEMPOS

David Coimbra, (Zero hora de 14/02/2007)

Isso tudo tem me irritado. Para começar, esse troço degestão. Todo mundo fala em gestão. Gestão, gestão.Sabe o que é gestão? Economia. Corte de gastos.Isso é gestão, para esses caras. Um secretário dafazenda, um prefeito, um ministro, um governador deEstado, todos eles, quando assumem seus cargos, falamem gestão. Muito moderno, muito revolucionário, elesaprenderam novas estratégias em cursos nos EstadosUnidos ou na Espanha. Ém-bi-êi, é como chamam essescursos. O sujeito vai lá, faz ém-bi-êi e sai dizendoque está pronto para aplicar novos métodos de gestão.Aí funda uma empresa que presta assessoria ou vaitrabalhar para o Estado. E arrosta:
- Temos que cortar as despesas.
Mas, Cristo!, a minha vó, Dona Maria Bernardina, jácortava as despesas em 1940! Então, esses são os novosmétodos de gestão? Os da Dona Dina??? Por favor! Tãonovos quanto os furúnculos que atormentavam Marxenquanto ele desvendava a mais-valia entre as chaminésde Manchester.Mas eles vêm com essa conversinha, os discípulos doém-bi-êi. Economia, economia. Meu avô, seu Walter,quando a Dona Dina queria economizar demais, já dizia:
- Economia é a base da porcaria.
E é!
Mas também não vá entender mal, não sou a favor dodesperdício. Estou falando do gênero de economia que,por exemplo, pode ter sido feita pelo metrô de SãoPaulo. Há suspeita de que as empresas que realizavam aobra eram estimuladas a economizar no materialempregado. Será que o tamanho do corte de gastos teverelação com o tamanho do buraco no qual sete pessoasperderam a vida? Se teve, talvez essa economia nãotenha valido a pena, não é mesmo?
***
Vou dar um exemplo futebolístico, já que estamosdentro de fronteiras esportivas. Grêmio e Interpassaram por choques de gestão, tempos atrás. O Grêmiofoi para a segunda divisão e o Inter gramou dois anossem disputar uma única final, perdendo todos osGre-Nais e terminando o ano sem time. FernandoCarvalho e Paulo Odone não aplicaram choque algum nosseus clubes. Também não foram perdulários, verdade.Mas investiram. O Inter, até há pouco, tinha 65jogadores. O Grêmio contratou um time inteiro. Osresultados estão aí.Um clube de futebol tem de investir no futebol.O poder público tem de investir nas pessoas.
***
A propósito: dias atrás, li que a prefeitura de PortoAlegre está se jactando de fazer uma gestão muitoenxuta, muito econômica. A prefeitura de Porto Alegreestá satisfeita com sua atuação, ao que parece. Poisvou dizer: nunca, desde que os casais açorianoschegaram ao canal onde os escravos ergueriam a Pontede Pedra, em 1845, nunca, desde então, Porto Alegreesteve pior. Nunca houve tanta gente abandonada nestacidade, nunca se viu tantos mendigos esmolando pelasesquinas, tantos sem-teto dormindo debaixo dasmarquises, famílias morando dentro de canos, gente aosmolambos emergindo dos esgotos feito ratazanassubnutridas, e pior, muito, muitíssimo pior: nuncahouve tantos meninos e meninas vagando sozinhos pelasruas, de pés descalços, imundos, ranhentos, tratadoscomo cachorros nas sinaleiras.Essa é a gestão da prefeitura de Porto Alegre.
***
E é pensando nisso, nesses meninos, nessa genteabandonada, que me irrito. Por causa do debate que seinstaurou no Brasil, desde a morte brutal daquelemenino no Rio, semana passada. Pois há dias só se falaem construção de presídios, em aumento do rigor daspunições, em mudança do código penal. Tudo isso podeser importante. Assim como é importante a economia deágua que vem sendo feita pelo governo do Estado. Mas é secundário.Chocado com o assassinato bárbaro do menino, o Brasilpassou a discutir as conseqüências, e esqueceu-se dascausas. A idéia é punir quem faz, não evitar que sefaça.É possível evitar que se faça. Basta tirar essesmeninos das ruas. Basta que a gestão seja voltada paraas pessoas, não para o balanço contábil. O Brasil clama por rigor contra o crime? Sou a favor.Sejamos rigorosos contra o crime ANTES que o crimeseja cometido. Em vez de confinar menores nospresídios, vamos OBRIGÁ-LOS a ir para a escola. Em vezde lutar para que a legislação permita a detenção demeninos de 16 anos, vamos lutar para que a legislaçãotorne OBRIGATÓRIA a internação de TODAS as crianças naescola, o dia inteiro. Inclusive o filho do rico.Inclusive o seu filho, minha senhora. Não há dinheiro para tanta escola? Não há dinheiropara pagar tantos professores? Há, sim.Existe disposição na comunidade para um projeto desalvação nacional. Existe solidariedade de sobra noBrasil. Os jogadores de futebol são exemplos notórios,tantos deles que montam instituições de caridade, quequerem, mas não sabem como ajudar. Se o Estado não temrecursos, o Estado tem liderança para orientar aspessoas com essa vontade, para mobilizar a comunidade,os empresários, os trabalhadores, nós todos.Eu acredito que seja possível. Desde que se queira.

Inicial

Esta postagem é a primeira de uma série de textos que pretendo colocar neste blog, por isso cabem alguns esclarecimentos.1- Este blog não tem como finalidade expôr e debater meus problemas íntimos e pessoais, portanto, não esperem um "diário" contando toda a minha vida aqui, este blog conterá textos e matérias diversas, algumas escritas por mim, outras não, as quais eu julgue serem pertinentes à nossa sociedade;2- Este blog conterá diversos textos emitidos por outros canais de comunicação, sempre emitindo a fonte da qual foi retirado;3- Este blog tem uma orientação política claramente de esquerda, portanto, não venham me cobrar neutralidade;4- Este blog tem como objetivo propagar e divulgar textos que sejam críticos ao sistema capitalista, ao neo-liberalismo, e ao status quó;5- Este blog também servirá como uma ferramenta de manifestação das idéias dos movimentos sociais e setores oprimidos na nossa sociedade;Por hora era isso,Rodrigo Schley